A estrela do Ruy brilha apontando o caminho da esperança

Ruy Ohtake,este pensador público,tinha acabado de receber o prêmio Personalidade da Tecnologia-Desevolvimento Urbano em dezembro de 2015 pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo.Encontrei-o no meio do auditório da entidade e lhe fiz o convite:

“Mestre podemos lhe convidar a fazer a logomarca do projeto Brasil 2022 ?”

Aceitou de pronto e sentiu-se honrado.Combinamos um encontro no escritório dele.

Fomos ao seu atelier na Faria Lima .Mostrou-nos um grande caderno com algumas obras dele e parou para nos explicar a epopeia dos prédios “redondinhos” com ampla área de lazer que tinha muito orgulho no meio da favela de Heliópolis.

Tempos depois nos liga para mostrar o esboço de 3 alternativas. Juntamos duas delas e nasce pouco depois o símbolo intrigante e premonitório do Brasil 2022.

Ofereceu-o generosamente à CNTU. Convidamos ele para nos explicar numa Jornada num plenário lotado as diversas dimensões (3D) deste símbolo .Foi incrível.

A 35 dias do início dos 200 anos do Bicentenário da Independência nos deixou sem combinar. Ao não ultrapassar a soleira de 2022 ,o ano em que o Brasil vai mudar de pele, Ruy nos deixa a certeza de que viver é tomar partido do mais justo construindo a beleza. Um amigo muito querido que fez da simplicidade a senha da complexidade da vida. Saudades.

 

Allen Habert
Diretor do SEESP e da CNTU

Logomarca criada pelo arquiteto e designer Ruy Ohtake, doada em 2015 ao projeto Brasil 2022

“A mancha verde propositadamente rabisco, porque em meio aos rabiscos que vamos ter de construir nossos caminhos pelo Brasil, e algumas diretrizes são os dois traços.”

Ruy Ohtake

Em 2021, o designer Cesar Paciornik , a partir do original de Ruy Ohtake,  a nova versão da logomarca do Brasil 2022 para meios digitais.

A logomarca Brasil 2022: a ágora e o pensador público

(Matéria sobre a logomarca do Brasil 2022 e seu criador Ruy Ohtake, por Marta Rezende, publicada na revista da CNTU, Brasil Inteligente, número 5 , 2015. Reproduzida a seguir com nova edição de imagens)

“O térreo é dos meninos que moram lá.” Disse esse jovem senhor, referindo-se com muito gosto a uma obra já pronta, os apelidados “Redondinhos” de Heliópolis. Destacando-se a interação entre a sociedade, sua população com a sua cidade. Ruy Ohtake é arquiteto formado pela Universidade de São Paulo (USP) e filho de uma reconhecida artista plástica, Tomie Ohtake, da qual herdou a generosa intuição e gigantesca disposição.

Provavelmente menos genética do que ética essa herança. E talvez o mais forte nesse homem nem seja mesmo essa maravilhosa herança. É escolha, opção ou atendimento de um chamado, de um convite, coisas das quais não se pode escapar quando elas se apresentam na sua porta. Transformam-se numa responsabilidade, num compromisso, numa doação. Mas para doar é preciso ter o que doar. Pelo menos 45 anos de trabalho, de experiência com a cidade, com o projeto arquitetônico, com o desenho, com as artes. “É necessário olhar para as comunidades”, uma ética que vai além, muito além, do material. O caráter simbólico é tão ou mais importante do que o caráter material. Estética é para qualquer um e para todo mundo. Tenha ou não dinheiro. Tenha ou não residência. Tenha ou não emprego.

Assim, matéria e símbolo coabitam a obra de Ruy Ohtake. Verdade que vai também muito além da obra, pois o arquiteto faz questão de entrar em contato com as pessoas para quem constrói uma obra pública de moradia. Como ele diz, “em situação de dupla responsabilidade”. Em Heliopólis tudo começou com um equívoco de uma revista que tomou a parte pelo todo, quando o arquiteto disse que a coisa mais feia em São Paulo era a desigualdade entre Morumbi e Heliópolis. E a revista, deturpando, sem querer querendo, só disse Heliópolis é o mais feio. E deu sorte essa deturpação das palavras. A comunidade o procurou, se é o mais feio nos ajude. Ele topou. Mãos à obra, mãos de projeto. O projeto é um esboço do futuro. Não é suficiente que o projeto seja bem detalhado tecnicamente. É imperativo o contato com a comunidade. E ainda hoje é possível encontrar o arquiteto em Heliópolis, acompanhando a vida que o projeto abriga.

Convite atrevido

Com a logomarca do Brasil 2022 foi um pouco diferente, não muito diferente. Começou por um convite atrevido. Projeta a nossa logomarca, Ruy. Ele ficou de pensar. E o arquiteto projetou. A partir de um diálogo com a comunidade CNTU. Também uma obra social. Obras sofisticadas são relevantes. Mas a síntese de obras socialmente importantes nunca deve ser relegada a segundo plano. Ruy atendeu a CNTU no primeiro plano. Convivência, criação de cidade, criação de país. O projeto Brasil 2022: O País que queremos é assim, uma busca de convivências para transformar o País, um esboço de futuro que bate à porta. Uma logomarca é o esboço de futuro. Todo projeto é o esboço de um futuro almejado. O projeto é um sinal de esperança, de quem olha para a frente e vê que é possível o futuro. Não há futuro sem a convivência, sem o outro. A logomarca é uma estética. “Estética pode ser em qualquer lugar”, entende o arquiteto. E a CNTU entende que o Brasil 2022 deve estar em qualquer lugar. A logomarca pode ser vista como anunciação de uma casa, um projeto de coimunização. Um teto, um solo, paredes, janelas e pronto, a vida lá dentro, incontrolável na sua liberdade.

Apenas um pouco de ordem já é bastante para o pensador privado, o que ocupa a casa; pensar a vida é o que fazemos enquanto vamos fazendo outras coisas na casa. Mas a logomarca é mais uma ágora do que uma casa, menos o lugar do pensador privado e mais o espaço do pensador público, aquele capaz de integrar em si e pensar até os maiores horrores da humanidade, embora, nem sempre, seja necessário ir a tanto. Embora seja necessária a casa. E necessária a comunidade, o que obriga a pensar juntos. A logomarca é um bordado que se pretende um patchwork.

Apenas um pouco de Um projeto de ir junto. Em comunidade. Comunidades. Várias comunidades. Um mundo sem centros absolutos. Toda comunidade é em si um centro. Um país é um mundo com muitos centros ou partes que se relacionam, que convivem, que trocam, que cooperam, que se misturam, incessantemente alterando a forma, desconfigurando, reconfigurando. Responsabilidade mútua e compromissada nisso, senão quebra tudo. Ameaça concreta, pois a globalização nos ameaça com uma catástrofe de desintegração, num crash de dimensões planetárias, com fragmentos em rota de colisão. O que nos obriga a buscar novas formas e bons costumes de sobrevivência comum. Sistemas de coimunização. Quem cuida de quem? A logomarca não diz, não tem que dizer, pois é um cuidar, cuidamos, cuida-se. Talvez pela primeira vez estejamos de fato obrigados a pensar e a providenciar uma civilização.